[Light Novel] Digimon Downloaded

O Sol já brilhava forte às oito da manhã quando a barraca dos escolhidos acordava.

- Acorde Horndramon! – disse Kennedy a seu digimon que ainda roncava.

- Acorde Wingmon... – Rebeka agora chamava sua parceira que dormia de penas infladas como um anjinho.

- Acorde Voltmon – disse Yoshi a seu parceiro besouro, cujas pálpebras se fechavam verticalmente como sua boca.

- Acorda Drimon! – chamou Charlie, sem seu boné e sua jaqueta, para seu digimon que dormia fechado em forma de bola.

- Acorda Doggmon... – disse Samyra para Doggmon que estava em seus braços, ambos sem chapéu.

- Acorda John!!! – gritou Swordmon sacudindo seu tamer que roncava e babava no colchonete.

Kennedy foi o primeiro dos que estavam ali naquela hora a se arrumar e sair da cabana, sendo seguido por seu digimon. Ali fora havia uma fogueira, alguns troncos distribuídos ao redor como bancos e vários troncos enrolados em cipós ao lado de um arbusto alto como uma pessoa. Ao lado da fogueira estava Lyvian de cabelos soltos sentada em uma toalha de piquenique com Primamon a seu lado, com uma caixa cheia de espetinhos de frutas assadas ao lado e alguns deles em suas mãos, sendo aquecidos na fogueira naquele momento.

- Bom dia Kenny e Horndramon! – cumprimentou ela energética - Já acordaram?

- Ah, olá Lyvian! Oi, Primamon – respondeu ele surpreso observando o ambiente e tudo que as garotas haviam arrumado.

- Oba!! Café da manhã! – gritou Horndramon eufórico, pulando por cima de seu parceiro e indo até os espetinhos.

Logo depois os outros escolhidos começaram a sair da barraca.

- Primeiro a barraca na mochila, e depois isso? – admirou-se John olhando a jangada arrumada pela garota.

- É que eu participo de acampamentos, hehe... – respondeu ela desconcertada enquanto prendia os cabelos – mas ainda não consegui um pano para a vela...

- Cadê a comida?! – perguntou Swordmon, observando a travessa de frutas vazia.

Mais a frente Horndramon estava visivelmente maior que o normal, principalmente na barriga.

- Horndramon!! – gritaram todos furiosos.

- Burp! – arrotou o dragão com a mão na boca – Foi mal...

- Não se preocupem, ainda tem mais! – respondeu Primamon, com várias frutas equilibradas em cima de sua cabeça.

- Ótimo! – disse Kennedy mudando de assunto enquanto tirava o mapa da mochila – Vamos terminar de comer e partiremos mar adentro!

- Mas como vamos atravessar o mar? – perguntou Yoshi, olhando para a jangada.

- É! Jangada sem vela não dá... – concluiu Voltmon.

- Vamos de navio cinco estrelas, não é Swordmon? – perguntou John para seu digimon, enquanto levantava seu D-Chip para o alto.

- É isso aí, John! – respondeu ele confiante – Pode deixar comigo!

- Gente, amarrem a jangada em minhas costas! – disse a enorme serpente na beira da praia.

- Hei, esperem! Cadê a Sally? – perguntou Samyra, a última a sair da cabana, acompanhada de Doggmon, ao ver que a garota não estava lá fora.

- Irmã! – gritou Lyvian olhando para os lados preocupada.

- “Ai, John, seu cabeça dura! Como pôde perdeu seu primo de vista?...” – ironizou John, imitando a voz da garota que ontem reclamara que havia se esquecido de seu primo, vendo que ela esquecera a própria irmã.

- Fiquei tão preocupada em arrumar a barraca, a fogueira, a comida, a jangada e todo o resto que eu nem percebi que minha irmã saiu da barraca... - então a menina tão dura e responsável começa a soluçar – Tenho certeza que sei o que aconteceu...

- Ela não deve ter ido longe, não há com o que se preocupar! – respondeu John tentando concertar a piadinha sem graça que tinha acabado de fazer.

- Tem sim! – respondeu ela triste – É que vocês não são irmãos dela! Não percebeu que ela é a única que não possui um digimon aqui?

- Hum... Bem que ela parecia meio abatida esses dias... – disse Yoshi.

- N-não me diga que ela saiu sozinha para procurar o digimon dela?! – concluiu Doggmon sozinho, torcendo por sua ideia ser mentira.

- Exatamente! – respondeu a irmã de Sally – Ela andava deprimida por não ter encontrado seu digimon, e sempre me dava uma indireta me perguntando se era bom ter um... E como todos os digimons escolhidos eram aqui da ilha, deve ter pensado que ele estaria aqui também! – Lyvian limpou os olhos vermelhos com as costas da mão, e então disse firme – Vamos procurá-la!

- Sim! – disseram todos.






Sally na verdade havia deixado a barraca um pouco depois de Lyvian ter se levantado para procurar lenha, e, na procura de seu digimon, já estava andando pela beira da praia a duas horas. O Sol ia apontando, o calor ia crescendo, e Sally, fraca, sem ter comido nada e por ter andado tanto, senta-se em uma pedra e começa a soluçar.

- O que eu penso que estou fazendo? Como se eu fosse encontrar meu digimon apenas por sair por aí procurando... – então ela cai no choro, com a cabeça entre os braços, que estavam apoiados nas pernas.

Já havia suado de calor e cansaço, mas o suor secara com o vento que vinha do mar, e agora sentia um arrepio gelado. O frio começava a aumentar cada vez mais. Mas não era um frio ruim, mas sim uma brisa refrescante, que acabou lhe confortando. Ocupada por estar chorando, não percebera no digivice que, ao invés de encontrar, acabara de ser encontrada.

- S-socorro... – uma voz fraca vem de trás da pedra em que estava. Ela era baixa como um sussurro, mas vinha de bem próximo.

Então, a garota se vira e encontra um ser do tamanho de uma criança caído de bruços no chão. Era parecido com um urso polar, de pelos brancos, garras afiadas e espinhos de gelo que saíam da cabeça lembrando um corte de cabelo moicano. Com certeza esse digimon não pertencia àquele clima.

Vendo o urso debilitado, a garota se comove e se prontifica a ajudá-lo.

- Meu deus! Você está bem?! – perguntou ela enquanto se abaixava e o colocava em seu colo.

O urso, de olhos semicerrados, que se esforçavam para permanecerem abertos, falou com uma voz fraca:

- S-socorro... eu preciso de...

- De que está precisando? Diga-me, por favor, farei de tudo para ajudar... – dizia ela com pena.

- G-ge... gelo... calor...

Sally começa a olhar para os lados sem saber o que fazer, até que se lembra que seu D-Chip possuía o poder do gelo. Mas não sabia como usá-lo, nem se funcionaria. Mas teria que tentar.

Então, a garota apontou o digivice para o urso caído, esperando que de alguma forma ele o refrescasse com uma espécie de brisa gelada ou alguma coisa parecida. Até que uma luz começa a sair da tela, envolvendo o corpo do pobre digimon, e então, o feixe de luz desaparece, junto com o urso.

- Mas o quê? – disse ela, sem entender o que ocorreu e, então, olhando para a tela de seu aparelho, que dizia...

- Digimon encontrado? DIGIMON ENCONTRADO?! – a garota quase não conseguia acreditar no que tinha acabado de ler, finalmente havia encontrado seu digimon, seu próprio digimon! – Yupi!

Então, a luz aparece novamente, materializando o digimon, agora de pé, que, sem tempo de se virar, a garota já o havia abraçado fortemente, quase o sufocando.

- Hurgh... muito... muito obrigado, menina... – dizia ele, sem saber o que falar ao certo, pois ela lhe abraçava com tanta força que seu cérebro nem conseguia pensar direito. Tendo a ideia de que ela parasse se mudasse de assunto, ele se pronunciou:

- Qual é o seu nome?

- Sally! E o seu é?...

- Sou o Snowmon!

- Vamos! - disse a garota agarrando o urso pelo braço e o puxando com força - vou te apresentar aos meus amigos! Eles adorarão te conhecer!

Então ambos seguiram andando pela praia durante alguns minutos, Sally seguia na frente guiando seu digimon, que, aproveitando a situação, pula em suas costas e a garota cai de bruços, e Snowmon, em suas costas, aponta as garras de gelo da pata esquerda para a nuca da jovem.

- Snowmon! O que você está fazendo? - Sally entende então finalmente o que estava acontecendo - Socorro! Alguém me ajude!

- Eles nunca vão te ouvir daqui, bobinha! - de trás dela agora vinha uma voz rouca e cortante, mas familiar - sua hora chegou! - então começou a abaixar a garra, em direção ao pescoço da garota.

Assim, como milagrosamente, surge uma sombra comprida sobre os dois.

- Tail Blade! - Uma lâmina como um relâmpago azul desce dos céus, mas para a meio metro da cabeça do urso ao ouvir-se um grito de "pare" que parecia ser de Lyvian.

- Cuidado, Wavemon! Você poderia ter atingido minha irmã!

- Me-me desculpe, Lyv!  - respondeu a serpente marinha.

- Deixe isso comigo! - Gritou a garota, enquanto corria em direção à irmã, para atacar o urso que a agarrava.

- Não, Lyvian! - gritou Primamon, ao ver a parceira fazendo o que deveria ser seu trabalho.

- Snow Ball! - o digimon lança uma bola de neve de sua boca, atingindo Lyvian no peito, a jogando para trás.

- Irmã, não! - grita Sally, ao ver a garota no chão.

- Onde é que eu estava? Hehe... - disse o urso voltando à jovem embaixo de si, mudando de ideia, agora preparando um ataque de gelo igual ao último.

- Não, Sally! - dizia sua irmã do chão com todos em volta - eu estou bem, vão e salvem Sally...

- Snowmon... - discursava a garota em seus últimos momentos - sei que você é um digimon bom, por favor, sei que você não faria isso... eu só queria acreditar que o MEU digimon que sempre sonhei poderia mesmo ser você...

Mas era tarde demais. A bola de neve já estava pronta na boca do urso, e, com um estampido igual ao de uma bala de canhão, uma fumaça azul e gélida no meio da praia quente resultou do tiro e envolveu os dois.

NÃO! SALLYYY!!! - todos gritaram, mas nenhum mais alto que Lyvian, que tirando forças de sua preocupação e do medo, levantou subitamente e correu em direção à névoa, até entrar dentro dela e sumir também.

Todos agora foram em direção ao nevoeiro, que exalava uma aura gélida mesmo a dois metros de distância.

Após meio minuto, surge uma silhueta carregando outra, que, ao saírem da névoa, são seguidas por parte dela, até se dissipar totalmente, revelando Lyvian com sua irmã ao colo, cuja pele estava azulada, e sua respiração difícil e falha saía de sua boca formando pequenas nuvens de vapor.

- Sally... você está bem? - perguntava a irmã com ternura.

- Irmã... - sussurrou a garota.

Nisso, a névoa azulada se dissipou completamente, revelando o urso que havia atacado, agora caído e esgotado.

- Ele... - sussurrava Sally olhando para o urso com esforço - Ele não me atacou...

Na verdade o pequeno digimon, no último momento, engoliu o próprio ataque, poupando a vida da garota.

- Ele... me salvou! - dizia a garota de presilha rosa, agora voltando a si. - Tenho certeza de que foi...

- Battomon! - completou Doggmon, rosnando, enquanto apontava em direção ao mar, onde o digimon nefasto já se distanciava dos garotos, olhando para trás com um sorriso maléfico que apenas ele conseguia fazer.

Então, rapidamente, os jovens subiram na jangada amarrada nas costas de Wavemon (Sally ajudou Snowmon a subir, ainda ferido do próprio ataque), enquanto John, segurando-se no chifre de seu digimon, gritava:

- Içar velas, preparar para o ataque tripulação dos escolhidos, aqui vamos nós!